terça-feira, 21 de outubro de 2014

Ambição





No começo, tudo o que ela queria era ouvir uma boa palavra quando chegasse em casa. Um afago. Alguém que lhe perguntasse como foi seu dia e, principalmente, que ouvisse a resposta com interesse. Alguém que fizesse um elogio de vez em quando. E, com bem menos frequência, críticas cuidadosas, que tivessem a real intenção de construir ao invés de magoar.

Depois, tudo o que ela queria era uma companhia para ir ao teatro, ao cinema, à exposição de arte, à Buenos Aires...Uma companhia para rir de Fernanda Torres na TV. E para comentar o último filme de Woody Allen.

Então, tudo o que ela queria era alguém para compartilhar aquela receita de "Pasta ao Pesto" que aprendeu com sua avó. Ou uma pizza de calabresa. Ou experimentar o tempero da nova churrascaria que abriu logo ali na esquina.

Mais uma vez, tudo o que ela queria era poder sentar-se na varanda para ler um livro sabendo que ali, na mesma casa, havia mais alguém, fazendo sei lá o quê.E que se cruzariam no corredor, trocando um sorriso ou se encontrariam na cozinha, em busca de uma xícara de café.

Agora, tudo o que ela queria era não estar só. Só em seus interesses, só em suas opiniões, só em sua casa. Não queria a solidão física, nem a solidão social. Repudiava a solidão interna, mais dolorida que a solidão aparente. Aquela solidão a que nós mesmos nos impomos quando nos recusamos a aceitar o outro como ele é. Agora, tudo o que ela queria era ter alguém para conversar.


Foi ao Pet Shop e comprou um papagaio.

Sobre pressa e educação

A pressa é, muitas vezes, a mãe da falta de educação. Já observaram como somos sisudos e às vezes mal educados quando estamos atrasados? Se a pé, o transeunte a nossa frente andando em ritmo mais lento nos exaspera; passamos à frente e quase derrubamos o idoso que anda pela calçada. Se estamos de carro, tanto pior: não paramos nas faixas de pedestres, atravessamos o sinal amarelo, jamais damos passagem a um carro que tenta sair de sua vaga de estacionamento. A única coisa que enxergamos é o relógio que nos massacra. Em nome da pressa estacionamos em fila dupla ou, pior, em vagas de deficientes e idosos. Em nome da pressa sequer damos "bom dia" as pessoas. Que poder é esse que nos transforma assim? Ou será que em momentos de pressão revelamos nosso verdadeiro eu? Vai saber... É para pensar, né?

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Segundo Ato

Com a expectativa de vida cada vez mais longa, cheguei a conclusão que, ao nos aproximarmos dos 50 anos, teremos outro tanto de tempo para viver. E, embora algumas peças estejam gastas e ja não tenhamos o vigor dos primeiros anos, a experiência e a maturidade serão as vedetes deste segundo ato do espetáculo da vida.É o momento de nos voltarmos um pouco mais para nós mesmos... 
Os filhos, se não estão adultos , estão quase. No trabalho, a aposentadoria regulamentar se aproxima. É a hora de cuidarmos de nós mesmos, física e emocionalmente. É hora de colocarmos em prática aquela projeto que teve de ser arquivado porque as responsabilidades com a família e com as finanças não nos deixavam tempo livre. Ou então de experimentar novos modos de vida. 
Vi hoje na TV uma senhora alemã de 77 anos que iniciou uma viagem pela Europa num carro antigo. Talvez fosse um sonho acalentado por longos anos. Ou  não. De repente ela apenas decidiu que era hora de sair da rotina, vai saber... Mas está mais viva do que nunca, empolgada por um objetivo que a faz esquecer qualquer vontade de se sentar numa cadeira de balanço passando o dia a tricotar. 
E então, quais são seus planos para os próximos cinquenta anos?.