quinta-feira, 18 de março de 2021

Sobre trânsito e luz

 Ontem eu estava dirigindo para um compromisso, já atrasada, quando percebi, a frente, um carro tentando sair de ré do estacionamento da farmácia. Sem pensar muito, parei para lhe dar passagem. Uma cordial buzinadinha dele, a minha em resposta, seguimos em frente. Fui, então, acometida de um bem-estar delicioso. Aquela manhã, que havia começado cheia de desânimo e dor de cabeça, de repente se transformou.

Gosto sempre de entender como e por quê os sentimentos se manifestam em mim. É claro que fazer uma gentileza é sempre gratificante, mas ali havia mais. Pensei um pouco e consegui identificar dois motivos:

O primeiro tem relação com uma deficiência minha, que é a dificuldade em ser gentil, especialmente no trânsito, quando estou com pressa. Costumo dizer que a pressa é a mãe da falta de educação. Já repararam como na correria esquecemos dos bons modos? Observo isso em muita gente. Correr contra o relógio nos faz agir rispidamente com qualquer um que atravesse o nosso caminho, como se o mundo tivesse culpa pelo nossa atraso. Pois bem, naquele meu momento, estar atrasada e, ainda assim, parar para dar passagem a alguém, foi uma vitória inestimável sobre meu ego, uma superação.

O segundo motivo refere-se a algo que aconteceu logo depois de minha atitude com o colega motorista. Na esquina seguinte viramos, ambos, na avenida e pegamos faixas diferentes. Pelo retrovisor pude ver que o favorecido de minha gentileza era, agora, quem dava passagem a outro carro que deixava uma vaga de estacionamento. Ao ver a cena, me lembrei daquele vídeo que andou correndo a internet há algum tempo, sobre a corrente do bem. Vocês já viram? Vale a pena. Este é o link:  https://youtu.be/QkGwnVVfag8 . Pensar que eu possa ter iniciado uma corrente do bem foi fantástico!

Um dia de cada vez, vou observando a mim mesma, meus sentimentos, minhas reações... Pensando no que quero mudar, no que gosto assim, no que já me serviu e hoje não faz mais sentido. E, dia após dia, vou percebendo alguma pequena conquista, caminhando devagar. Penso que é assim que o mundo vai melhorando, com cada um cuidando da sua evolução interior, lenta, mas continuamente.

Um céu estrelado é composto de cada ínfima luz que enxergamos. É o conjunto delas que cria a beleza, a harmonia. Sejamos luz sempre que for possível. E que possamos contar com as outras luzes nas vezes (cada vez menos frequentes) que só consigamos ser escuridão. Paz e bem para todos nós!

 

quarta-feira, 3 de março de 2021

Tempo, esse danado!

 


Eu adoro ver vídeos e programas de viagens. Sábado,  assisti #pedropelomundonognt, episódio Etiópia. Muito legal.

Vocês sabiam que lá o calendário é diferente do nosso? São treze meses e há um atraso de sete anos. Tudo por causa de uma divergência na determinação da data de nascimento de Jesus Cristo entre a religião predominante no país, a Católica Ortodoxa, e o cristianismo do mundo ocidental que conhecemos.

As horas por lá são contadas de maneira diferente também. O dia começa quando o sol nasce. Assim, o que é seis da manhã para nós, para eles é zero horas (cuidado ao marcar um compromisso com um etíope!)

Aprendi muito mais coisas bacanas no programa, mas esse lance de medição do tempo me impactou: como é diversa nossa relação com este que é, ora carrasco, ora balsamo, em nossa vida. Passamos a existência tentando lidar melhor com ele.

Nas últimas décadas temos conseguido estendê-lo de forma inesperada. Estamos vivendo mais. Com a vacina chegando e os calendários de vacinação sendo divulgados, o Brasil definitivamente percebeu que não somos mais um país de jovens. Aliás, tivemos a precisa dimensão do quão mais estamos vivendo.

Quando fiz 50 anos, dizia aos amigos que havia chegado, literalmente, à metade da vida. Virou piada, embora eu falasse sério, bem sério! Realmente acredito ser possível chegar aos 100 e com saúde.

Essa confirmação veio várias vezes nos últimos dias. A mídia mostrou uma boa quantidade de gente acima dos 95, com sorriso no rosto, conversando lucidamente como se tivesse 40. E mais: vi pares, casais. Não viúvos ou viúvas. Casais com 60, 70 anos de matrimônio. Tudo isso só em São Paulo. Na capital, uma enorme quantidade de indivíduos tem mais de 90 anos e há um pouco mais de 1.200 orgulhosos seres humanos que já passaram dos 100!

Jovens, preparem-se! Em breve vão ter que dividir o futuro com seus avós e bisavós. E isso será muito positivo. Essa associação de idades, se bem utilizada, trará dobradinhas como: “vigor e experiência”, “coragem e prudência”, “entusiasmo e serenidade”. Entraremos na era do equilíbrio e da cooperação.

E talvez aprendamos a lidar melhor com essa entidade misteriosa chamada tempo.