quinta-feira, 15 de abril de 2021

Gratidão

 


Sempre tive boa memória para números. Assim, sou capaz de lembrar seu aniversário, telefone, CPF... mas se encontrar você na rua, posso ter dificuldade em lembrar seu nome. Sério!

Acordo pela manhã, olho a data e digo para mim mesma: - hoje é aniversário do fulano. Às vezes é alguém muito antigo em minha memória, como colegas de escola, por exemplo. Lembro-me da data de uns tantos que estudaram comigo quarenta anos atrás. Nunca mais falei com eles, nem sei se se lembram de mim. Mas eu me lembro deles no dia de seu aniversário.

Em minha vida de tímida, sempre considerei datas de aniversário e Natal como ótimas oportunidades para manter contato com as pessoas. Ter um pretexto para falar um “oi” para um amigo ou parente com quem não falo há tempos, para mim, é uma dádiva. Tem gente que liga de vez em quando por nada, só para saber como a gente está. Pessoas iluminadas! Eu preciso de um pretexto para começar a conversa, um assunto inicial. E nada melhor do que “Parabéns!”

A internet facilitou muito a vida e já não preciso mais me lembrar das datas (embora ainda me lembre) e nem ter um caderninho com elas anotadas (embora ainda tenha). O Facebook faz isso por todos nós.

Terça-feira última, meu aniversário, tive o prazer de receber 99 felicitações nessa rede social, fora as outras redes, mais diretas, e telefonemas. Amigos e conhecidos que acharam importante tirar uns poucos minutinhos do seu dia para manter vivo o contato comigo. Isso aquece o coração, sabe? Sempre aquece. E neste momento da humanidade, quando os contatos físicos estão tão escassos, aquece ainda mais! Senti-me abraçada, acarinhada, feliz. Li cada mensagem com sorriso largo e olhos úmidos de emoção. O dia foi curto para responder com um textão a cada um, mas deu vontade.

Naquela noite, quando fui dormir, minha lista de gratidão ao Universo foi a maior dos últimos tempos. Agradeci pela vida, pela família, pelos amigos próximos e distantes. Agradeci as inúmeras oportunidades que a tecnologia oferece, nos conectando por todo o planeta, não importa a distância. Agradeci a todas as mãos e cérebros que criaram e mantém os programas e dispositivos maravilhosos que usamos para essa conexão. E, sobretudo, agradeci por saber agradecer, por enxergar cada minuto de alegria e privilégio que a vida me proporciona.

Gratidão a todos vocês que fazem parte do meu mundo e que dividem comigo essa casa chamada Terra. Vocês tornam minha vida mais feliz!

 

quarta-feira, 7 de abril de 2021

Irmãs

 


 

 A língua é viva, já dizia Olavo Bilac e D. Clotilde, minha saudosa professora da faculdade de Letras. Modifica-se e movimenta-se no espaço e no tempo. Palavras ora surgem, ora entram em desuso, pela ação, segundo estudos mais recentes, da estrutura social de seus falantes, que, por sua vez, também não é estática.

 Sororidade é uma dessas palavras novas. O termo vem do latim “soror” que significa irmã, e surgiu a partir do movimento feminista para designar o sentimento de união, empatia e solidariedade entre mulheres e em oposição a rivalidade, estimulada em outros tempos. A teoria de dividir para subjugar, muito usada nas guerras, era também incutida na educação das meninas, evitando que se rebelassem. É um conceito novo para muitos de nós, que crescemos ouvindo o discurso de que mulheres têm que ser rivais, especialmente quando se trata de atenção masculina ou de padrões de beleza.

Tenho observado que esta realidade – considerar outra mulher como rival - ainda povoa grupos de mulheres da minha idade. Comentários sarcásticos e depreciativos são comuns em alguns ambientes femininos, principalmente sobre aquelas que não fazem parte do grupo.

Exemplos baseados em fatos:

1 - No grupo de ginástica para mulheres maduras(?), na academia, uma das integrantes não se achava bem entrosada com o resto, talvez por sentir-se diferente, já que seu corpo estava bem longe dos padrões de peso impostos pela sociedade. Naquele dia, o professor usou na aula uma música que ela adorava e, sem pensar muito, a mulher soltou o corpo em alguns passos de dança. O resto do grupo, então, começou a caçoar a meia voz (algumas, mais maldosas, em voz inteira). Senti-me de volta ao ginásio, com o “bulling” correndo solto.

2 - Na mesma academia, mesmo grupo, o amado professor saiu em férias e a substituta, recém-formada, deu uma primeira aula cheia de insegurança, ocasionada pela pouca experiencia e, talvez, pela intimidação que aquelas mulheres mais velhas lhe causavam. Mais uma vez, os comentários depreciativos correram à boca miúda. Voltei novamente ao passado, desta vez aos meus primeiros dias em sala de aula como professora. Como eram assustadores todos aqueles olhares, esperando que eu fosse perfeita...

Não se trata, aqui, de ter afinidade com todas as mulheres do grupo, mas de manter o respeito e a empatia. Estender a mão a uma companheira em apuros, ser compreensiva com as dificuldades alheias, receber com gentileza um novo membro no grupo, são atitudes que devem ser praticadas com todos os seres. O que a sororidade nos lembra é que, por termos a afinidade do gênero, fica ainda mais fácil percebermos as dores umas das outras.  

Felizmente, as novas gerações começam a entender a força dessa cooperação ancestral. Acredito que nossas netas e bisnetas já usufruirão da ideia de que a sororidade é um sentimento inerente à energia feminina e a cultivarão com naturalidade.