No começo, tudo o que ela queria era ouvir uma boa palavra quando chegasse em casa. Um afago. Alguém que lhe perguntasse como foi seu dia e, principalmente, que ouvisse a resposta com interesse. Alguém que fizesse um elogio de vez em quando. E, com bem menos frequência, críticas cuidadosas, que tivessem a real intenção de construir ao invés de magoar.
Depois, tudo o que ela queria era uma companhia para ir ao teatro, ao cinema, à exposição de arte, à Buenos Aires...Uma companhia para rir de Fernanda Torres na TV. E para comentar o último filme de Woody Allen.
Então, tudo o que ela queria era alguém para compartilhar aquela receita de "Pasta ao Pesto" que aprendeu com sua avó. Ou uma pizza de calabresa. Ou experimentar o tempero da nova churrascaria que abriu logo ali na esquina.
Mais uma vez, tudo o que ela queria era poder sentar-se na varanda para ler um livro sabendo que ali, na mesma casa, havia mais alguém, fazendo sei lá o quê.E que se cruzariam no corredor, trocando um sorriso ou se encontrariam na cozinha, em busca de uma xícara de café.
Agora, tudo o que ela queria era não estar só. Só em seus interesses, só em suas opiniões, só em sua casa. Não queria a solidão física, nem a solidão social. Repudiava a solidão interna, mais dolorida que a solidão aparente. Aquela solidão a que nós mesmos nos impomos quando nos recusamos a aceitar o outro como ele é. Agora, tudo o que ela queria era ter alguém para conversar.
Foi ao Pet Shop e comprou um papagaio.
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