quarta-feira, 29 de abril de 2020

Eu vou me permitir!


Hoje amanheci desesperançada. Às vezes acontece. Há dias de muita energia e há dias de recolhimento e melancolia. Eu sempre tive. Nada tem a ver com a pandemia ou a reclusão, embora sejam assuntos que fazem parte do conjunto de amarguras pelo destino da Humanidade que por vezes me abate.
Quando um dia desses me invade, só tenho vontade de rever filmes ou reler livros já conhecidos e amados, acompanhados de uma caixa de chocolates. Esse foi o primeiro pensamento que tive hoje logo pela manhã, ao constatar meu estado de ânimo.
Minha mente investigativa estava, porém, alerta, e meus pensamentos tomaram rumos inesperados. Perguntei-me: porque só desejo filmes e livros já conhecidos nestes momentos? Segurança - é a resposta. Passamos a vida a seu encalço. Às vezes, nem percebemos. Há momentos em que as emoções positivas camuflam nossa sensação de insegurança e não nos damos conta de sua importância. Porém, basta um dia nublado em nosso íntimo para buscarmos ao redor qualquer coisa que nos faça sentir seguros. Alguns terapeutas recomendam, para restaurar nossa confiança, a posição fetal ou o retorno às memórias da infância, nossas referências mais fortes de amparo. A rotina é, também, algo que nos dá segurança, mesmo aos que não gostam ou fujma dela.
Falando sobre dias cinzentos, não posso deixar de citar minha “síndrome de domingo”, assim batizada por meu ex-marido, alvo constante de meu mau humor dominical. Desde criança sinto uma grande tristeza, sempre aos domingos. Agora adulta e (muito)experiente identifico o problema: domingo não segue a rotina. Você acorda mais tarde, almoça fora de horário, não tem trabalho, não tem novela nem Jornal Nacional. Interessante que, mesmo não trabalhando mais com hora marcada e não assistindo TV, a síndrome ainda me pega. Talvez esteja ligada, não a minha rotina, mas ao cotidiano do mundo!
Entretanto, hoje não é domingo. É uma quarta-feira linda com um sol maravilhoso. Ainda assim amanheci desesperançada...
Não vou racionalizar. Vou apenas me permitir. Tristeza, angústia, melancolia são sentimentos que estão aqui dentro de mim, reivindicando seus direitos de se mostrarem ao mundo. Pois bem, hoje é o dia. Sem cobranças, sem culpa. Já separei, aqui, uma caixa de lenços de papel, uma playlist de Bossa Nova e outra do saxofonista Stan Getz (que me foi, providencialmente, indicada pela amiga Maria do Carmo). O livro, A Graça das coisas, de Martha Medeiros. Os filmes “Comer, Rezar e Amar” e “O turista” (ambos Netflix). E amanhã é outro dia!
Alguém aceita um bombom?

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Puxando minha própria orelha.



Hoje fui ao supermercado. Munida de máscara e óculos escuros, dei sorte e não peguei fila para entrar. Havia pouca gente, menos que o limite permitido para a quarentena. Na porta, um funcionário mediu minha temperatura no pulso (eu nem conhecia esse tipo de termômetro) e  ofereceu álcool em gel para higienização.
Senti-me em um filme de ficção cientifica. Só que não do jeito bom, cheio de tecnologias... Daquele jeito onde tudo piorou e a liberdade de ir e vir não exite mais. E essa é uma situação recorrente: escritores e roteiristas apenas antecipam em suas obras um futuro que, certamente, virá.
Andando pelo supermercado, achei o ambiente extremamente escuro. Pensei: "será que estão economizando energia com medo da crise econômica?" Ao cruzar com outra cliente, ela comentou:
- Essa máscara atrapalha a visão, né?
E eu pensei: "não é a mascara, é a luz do supermercado que está fraca!"
Continuei circulando pelos corredores fazendo minhas compras e reclamando mentalmente da iluminação do lugar. Já estava mesmo disposta a ir falar com a gerência quando, ao acaso, levei a mão ao rosto e percebi o problema: eu estava com os óculos de sol!!!
Apesar de todas as mudanças que ocorrem no mundo, os Seres Humanos mantém seus vícios. Um deles é julgar sem avaliar os argumentos. É o que a gente mais faz. É o que sempre se fez. Emitir julgamentos é, na verdade, uma estratégia de defesa de nossa mente para nos avisar de perigos. O problema é saber quando e como julgar. Na maioria dos casos corriqueiros, julgamos sem necessidade e sem elementos suficientes para emitir um veredicto.
No caso dos meus óculos, embora não tenha destratado ninguém por causa de um erro meu, senti-me envergonhada pelo julgamento precipitado que gerou um monte de impropérios (ainda que não ditos) a pessoas que não tinham a menor culpa. Marshall B. Rosenberg, em seu livro Comunicação não violenta, nos diz que a observação é a primeira coisa que devemos fazer antes de qualquer interação consigo ou com outro. No meu caso, a interação foi comigo mesma e gerou um estado de irritação que era desnecessário. Nesse mesmo livro ele cita o filósofo indiano J. Krishnamurti: "observar sem avaliar é a forma mais elevada de inteligência humana".
O trajeto que minha mente seguiu nesse episódio é, com certeza, um caminho muito comum para todos nós: percebemos algo errado e logo emitimos um julgamento, muitas vezes responsabilizando uma outra pessoa. É aí que os conflitos começam.
Sai do mercado com as compras na mão e o pensamento em penitência. Por pouco não corri até a gerente e me desculpei com ela e com todos os funcionarios. Iriam me achar maluca, não é mesmo?

quinta-feira, 16 de abril de 2020

Amor de mãe


Por 54 anos em minha vida, minha mãe foi uma das primeiras a me dar felicitações em meu aniversário. Muitas vezes, antes mesmo do marido, deitado ao meu lado. Nos muitos anos que passamos morando longe uma da outra, ela me ligava logo cedo cantando os primeiros versos de “Parabéns a você”, com o amor transbordando em cada palavra.
Este ano o telefone não tocou...
Nos últimos meses, desde sua morte, tive vontade de escrever sobre o que é perder a mãe. Muitos, entre os que leem essas minhas palavras, já sabem, talvez há bastante tempo. Outros só imaginam. Quando eu era mais jovem ouvia dizerem que as mães deveriam viver para sempre e, no auge da sabedoria de meus vinte e poucos anos, achava isso um exagero. Não acho mais...
Quando elas se vão, a gente se dá conta de que está indo embora a pessoa que mais nos amou neste mundo todo. Por mais que as relações sejam difíceis... por mais que a distância (física ou emocional) seja grande... A mãe é aquela pessoa que quer sempre o nosso bem, ainda que discordem de nossa conduta. Toda regra tem exceção, é claro, mas as estatísticas apontam porcentagens elevadas a favor deste conceito. Nem sempre as entendemos, nem sempre as aceitamos como elas são. Mas sempre nos sentimos amparados por seu amor.
Perder a mãe, em qualquer idade, nos faz sentir uma solidão profunda, um desamparo emocional que a gente não explica. Perder a mãe é, definitivamente, amadurecer tudo que nos faltava de uma só vez. Acabou o mimimi. 
Agora, viver é só com a gente, sem colinho para chorar. 



segunda-feira, 13 de abril de 2020

Aniversário


Enquanto voaram os anos,
eu andei depressa,
quase desandando no caminhar.
Passaram amores, trabalhos, canções...
Passaram as pedras em que tropecei.
Apertei o passo,
acelerando as rugas e os cabelos brancos.

Um dia parei e consultei a bússola.
Percebi que andei bem e a direção estava correta
Era hora de diminuir a toada.
Fui deixando a correria,
mesmo sabendo que ainda havia muito para caminhar.
A pressa não faz mais parte do roteiro.

Agora já posso olhar com calma a paisagem.
Encontrar os amigos que sempre estiveram ao meu lado
e que também começam a desacelerar o passo.
Posso olhar para meu canteiro de vida, observando o que plantei:
Ali estão as duas sementinhas
que me foram confiadas pelo Criador.
Cresceram no bem, verdadeiras, amorosas, justas.
Estão prontas!
Posso também enxergar, em detalhes, o mundo que me rodeia:
tão cheio de cores e amores, embora ainda bem imperfeito.
E, sim, posso olhar com o devido carinho
para dentro do meu coração.
Ele está repleto de paz.
Repleto de gratidão pelo trajeto já trilhado.
Nele habita agora uma força diferente.
É aquela que vem da vivência,
que conforta, acompanha,
e não esmorece jamais.

Dou, então, a mim mesma,
as boas-vindas à segunda parte do meu caminho.
Essa é a parte da plenitude,
a parte do autoamor.
É o momento da Colheita.


domingo, 12 de abril de 2020

Para além da tradição cristã

   

Há alguns anos recebemos em nossa casa para o feriado de Semana Santa, um amigo da Bulgária. Foi uma oportunidade única de conhecermos costumes de um povo tão diferente de nós. Vocês sabiam que a tradição por lá não são os ovos de chocolate? Como assim, Pascoa sem chocolate? Vou me lembrar de não passar a páscoa por lá... Mas eles tem um costume bem legal: pintar ovos de galinha cozidos e arrumá-los em cestas para enfeitar a casa. A família toda participa da pintura, que é uma festa de criatividade, especialmente para as crianças. E o animalzinho símbolo por lá é o pintinho. Faz mais sentido, né? Conhecer costumes de outros povos nos ajuda a entender que ser diferente não torna ninguém melhor ou pior.

Sobre a Pascoa, separei um artigo da editora abril que nos explica de onde vêm as tradições que replicamos ano após ano. Está no link abaixo. Boa leitura!!

https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/voce-sabia-que-a-festa-da-pascoa-e-mais-antiga-que-jesus-e-os-judeus/

domingo, 5 de abril de 2020

Delicadeza e força

Há uma infinidade de palavras já escritas que nos acalentam a alma. Escritores de todos os gêneros e nacionalidades trazem para nós a definição de nossos sentimentos.
Cora Coralina é uma dessas mentes iluminadas. Nascida em Goias/GO, começou a escrever ainda criança, mas só teve seu primeiro livro publicado aos 75 anos. Inspirador, não acham? Sempre é tempo de realizar sonhos...
Se tiverem oportunidade, assistam ao filme infantil de 2017  "O Colar de Coralina" - de Reginaldo Gontijo. Estrelado por Letícia Sabatella é baseado no poema "O Prato azul pombinho" da poeta. Embora não tenha alcançado sucesso nem de critica nem de público, dá-nos uma boa ideia da vida de Ana (verdadeiro nome de Cora Coralina), uma menina que gostava de ler e escrever na patriarcal Goiás do final do seculo XIX.
Disponível para alugar na Google Play Filmes e no Youtube

Por agora, deliciem-se com essa preciosidade que nos acaricia o coração neste momento de incertezas.

Aninha e suas pedras
Não te deixes destruir…
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede
Cora Coralina   

               


quinta-feira, 2 de abril de 2020

Começando uma nova etapa.


Às vésperas de completar 55 anos, no meio de uma quarentena e de uma organização de casa nunca vista em minha vida, aqui estou eu iniciando um blog. Ele já estava planejado há anos (desde que fiz 50) e, a princípio, deveria chamar-se “A outra metade”, referindo-me ambiciosamente a segunda metade de minha existência, os próximos 50 anos.
Percebi, porém, que poderia ser confundido com a outra metade da laranja e atrair jovens românticos (ainda existem?) à procura da fórmula mágica sobre relacionamentos. Assim, depois de queimar alguns neurônios, achei um nome mais adequado para este blog, que tem a pretensão de entreter e informar a nós, mulheres experientes em busca de qualidade: de vida, de humor, de amor... 
E, falando em quarentena, em arrumação, faxina, desapego... minha casa mais parecia o dia seguinte de um furacão quando o isolamento social começou. Confesso que sou um pouco acumuladora e já tinha a casa cheia de coisas do tipo “talvez possa precisar um dia” quando, subitamente, tive que trazer para minha residência as coisas de minha falecida mãe. Para que entendam o problema, preciso lhes dizer que ela foi minha mestra na arte de acumular...  O resultado: minha casa parecia o dia seguinte de um furacão!
Desde julho passado, quando trouxe para mim a bagagem dos 80 anos de vida de minha mãezinha, não havia conseguido encontrar a logística (nem o ânimo) para destralhar, desapegar, organizar... Mas, em 15 dias de pandemia, já consegui eliminar 90% da bagunça. Tédio na quarentena? Não sei o que é isso.
O Universo é sábio.
Arrumar minha casa, minimalizar tudo, ter só o necessário para este momento, está fazendo maravilhas com meu bem estar. Sinto-me iniciando uma nova etapa. Mais de 50 anos de vida, já é tempo de saber o que realmente me é útil e prazeroso. E descobrir que a gente fica mais leve com menos matéria a nossa volta...
A esse respeito, a revista Vida Simples fez uma matéria incrível sobre os diversos métodos de organização e desapego. Dê uma olhada. https://vidasimples.co/transformar/como-organizar-sua-casa-e-viver-so-com-o-essencial/