Hoje amanheci desesperançada. Às vezes acontece. Há dias de muita energia e há dias de recolhimento e melancolia. Eu sempre tive. Nada tem a ver com a pandemia ou a reclusão, embora sejam assuntos que fazem parte do conjunto de amarguras pelo destino da Humanidade que por vezes me abate.
Quando um dia desses me invade, só tenho vontade de rever filmes ou reler livros já conhecidos e amados, acompanhados de uma caixa de chocolates. Esse foi o primeiro pensamento que tive hoje logo pela manhã, ao constatar meu estado de ânimo.
Minha mente investigativa estava, porém, alerta, e meus pensamentos tomaram rumos inesperados. Perguntei-me: porque só desejo filmes e livros já conhecidos nestes momentos? Segurança - é a resposta. Passamos a vida a seu encalço. Às vezes, nem percebemos. Há momentos em que as emoções positivas camuflam nossa sensação de insegurança e não nos damos conta de sua importância. Porém, basta um dia nublado em nosso íntimo para buscarmos ao redor qualquer coisa que nos faça sentir seguros. Alguns terapeutas recomendam, para restaurar nossa confiança, a posição fetal ou o retorno às memórias da infância, nossas referências mais fortes de amparo. A rotina é, também, algo que nos dá segurança, mesmo aos que não gostam ou fujma dela.
Falando sobre dias cinzentos, não posso deixar de citar minha “síndrome de domingo”, assim batizada por meu ex-marido, alvo constante de meu mau humor dominical. Desde criança sinto uma grande tristeza, sempre aos domingos. Agora adulta e (muito)experiente identifico o problema: domingo não segue a rotina. Você acorda mais tarde, almoça fora de horário, não tem trabalho, não tem novela nem Jornal Nacional. Interessante que, mesmo não trabalhando mais com hora marcada e não assistindo TV, a síndrome ainda me pega. Talvez esteja ligada, não a minha rotina, mas ao cotidiano do mundo!
Entretanto, hoje não é domingo. É uma quarta-feira linda com um sol maravilhoso. Ainda assim amanheci desesperançada...
Não vou racionalizar. Vou apenas me permitir. Tristeza, angústia, melancolia são sentimentos que estão aqui dentro de mim, reivindicando seus direitos de se mostrarem ao mundo. Pois bem, hoje é o dia. Sem cobranças, sem culpa. Já separei, aqui, uma caixa de lenços de papel, uma playlist de Bossa Nova e outra do saxofonista Stan Getz (que me foi, providencialmente, indicada pela amiga Maria do Carmo). O livro, A Graça das coisas, de Martha Medeiros. Os filmes “Comer, Rezar e Amar” e “O turista” (ambos Netflix). E amanhã é outro dia!
Alguém aceita um bombom?