sexta-feira, 29 de maio de 2020

Fé na humanidade



Uma conversa que tive esta semana fez-me pensar sobre meu modo positivo de enxergar as coisas no mundo. Questionaram-me se, por eu fazer trabalho voluntário e estar, assim, num ambiente cercado por pessoas de bem, eu estaria vivendo numa bolha de solidariedade, muito diferente da realidade da grande maioria dos seres humanos, e por isso minha fé na evolução moral da humanidade.
Ouço muito isso de ser muito otimista. É certo que sou a pessoa que vê o copo sempre meio cheio, que já foi acusada de sempre procurar o lado bom do inimigo e de ter a “síndrome de Pollyanna”. Confesso que o livro de Elenor H. Porter (Pollyanna e Pollyanna Moça) foi um marco em minha vida e que procuro, sim, jogar o jogo do contente sempre que consigo. Mas, na verdade, eu acho que é tudo uma questão de fé. O Universo, já nos provou a ciência inúmeras vezes, é de uma exatidão que nós pouco conseguimos, ainda, imaginar. Cada detalhe está dentro de regras cuja precisão nossa mente ainda não alcança. Só recentemente a ciência descobriu a potência das ondas emanadas pelos pensamentos. Assim, acredito na energia que liberamos ao vibrar positivamente e confiar no desfecho do que não conseguimos controlar.
Além disso, acredito em dar exemplo mais do que em dar sermão. Acredito, ainda, que ficar repetindo que tudo vai mal não vai fazer ficar melhor. Por isso, procuro me apegar aos pequenos sucessos, potencializando sua capacidade de gerar o bem, transformando-os em impulsionadores de melhores práticas.
Se estou sendo otimista demais, não sei. Percebo todas as nossas dificuldades e as falhas advindas do mau uso de nossa inteligência. Não estou me enganando, pintando o bolor de cor-de-rosa. Apenas acredito em acreditar e em entregar, na confiança de que tudo acontecerá não da forma que nós, com a nossa restrita capacidade de avaliação, esperamos, mas da forma que deve ser, para manter a harmonia de todas as coisas na exatidão Universal.
Irmã Dulce disse “Tudo o que acontece no universo tem uma razão de ser, um objetivo. Nós, como seres humanos, temos uma só lição nessa vida: seguir em frente e ter a certeza de que, apesar de às vezes estar escuro, o sol sempre vai voltar a brilhar”.
E o sol, as vezes, brilha entre as densas nuvens!

Nota: Para quem ainda não leu o livro Pollyanna, explico: o jogo do contente consiste em encontrar sempre um motivo para se alegrar, por mínimo que seja, em todos os problemas que nos afligem. Explicação rápida para não dar spoiler

quinta-feira, 21 de maio de 2020

A cultura do atraso



Hoje fui ao médico. Marcado para 10 horas, a recepcionista pediu-me para chegar 15 minutos antes. Cheguei. Fui atendida com 45 minutos de atraso. Uma hora de espera. Nada de estranho, não é? Quem consegue ser atendido na hora? Brasileiro nenhum, salvo raríssimas exceções.
Seja na área de saúde, financeira, serviço público, entretenimento ... Nada acontece na hora marcada e ninguém espera que aconteça. Se o evento está marcado para as 19h, nossa mente já determina que vai começar, pelo menos, as 19h15. Então nos atrasamos também, para não ter que esperar. E banalizamos a impontualidade, formalizamos a normalidade do atraso.
Só que não é normal! Ou não deveria ser. A cultura brasileira do atraso é tão forte que há situações em que não é considerado de “bom tom” ser pontual. Em casamentos, por exemplo, a noiva tem que se atrasar. É praxe que todos esperem por ela. Alguns celebrantes e alguns casais têm tentado mudar isso, mas não é fácil. O hábito está tão arraigado que quando alguém nos atende na hora, achamos que há algo errado. Já me aconteceu de duvidar da competência do profissional ao ver que ele conseguia atender todos os pacientes na hora marcada!
Com o atraso, vem a ansiedade de quem espera. Num mundo já tão impaciente, criamos mais este motivo para nos tirar a paz. Mesmo quando quem está esperando não tem nada para fazer depois, nenhum compromisso com ninguém, a espera traz irritação.
No meu caso, quando percebi que estava ansiosa à toa, relaxei. E para passar o tempo, pedi uma caneta na recepção e rascunhei essa crônica no envelope que continha meu exame anterior. Valeu! Mas gostaria que passássemos a encarar pontualidade como ponto de honra (com o perdão do trocadilho infame).



quinta-feira, 14 de maio de 2020

Passado e futuro se misturam na melhor versão de cada um




Vi hoje, na internet, uma notícia sobre um drive-in que será instalado no Rio. Quando eu era adolescente morria de vontade de ir num desses lugares que via tanto nos filmes dos anos 60. Na minha época, no Brasil não existiam. E mesmo que existissem, seria necessário um carro, coisa que só fui ter já casada e morando em cidade de interior que mal tinha um cinema convencional.
Esse retorno modernizado do cinema dentro de carros me fez pensar sobre o quanto o futuro traz de volta o melhor do passado. Já perceberam? O próprio cinema tradicional, depois de quase extinguir-se de vez, voltou glamoroso nos Shoppings do país e do mundo. Com alta tecnologia, estão sempre lotados, mesmo em tempos de blu-ray e da tecnologia de streaming (tipo Netflix, Prime vídeo etc.).
As moradias também passaram por isso. Nas grandes cidades, há mais de meio século, o centro era um lugar chique de se morar. Depois, bairros nobres substituíram a preferência dos mais abastados. Hoje, com o trânsito caótico, todos querem voltar a morar no centro e deixar o carro na garagem. Virou chique de novo. E os móveis e roupas retrô ou vintage? São o que há de mais atual.
A quarentena, segundo dizem estudiosos, está funcionando como um acelerador de futuro. Pode ser. Mas, se pensarmos bem, funciona também como um acelerador de volta ao passado. Voltamos a ficar mais tempo em casa com a família; a nos divertimos com atividades simples; estamos cozinhando mais, telefonando para os amigos e parentes (em vez de só mandar mensagens). Conseguimos, de novo, enxergar o céu azul, as estrelas, os peixes dentro de rios. Diminuímos o consumismo, que havia se tornado exacerbado nos últimos tempos. Voltamos a ter tempo e vontade de conversar...
O mundo evolui, a tecnologia avança constantemente, muita coisa se perde. Mas o que é bom, de verdade, sempre acha um jeitinho de retornar.
Quais coisas boas do seu passado você está conseguindo trazer de volta?

quinta-feira, 7 de maio de 2020

Massagem nos pés

Nesta semana do dia das mães, quero compartilhar com vocês um texto que escrevi como atividade em um curso que fiz com a querida Ana Holanda no final do ano passado.

O QUE APRENDI COM MASSAGEM NOS PÉS
Quando vou a massagista logo aviso: “Demore bastante nos pés porque eles gostam muito". Eu adoro. Dizem que todas as partes do corpo estão representadas nos pés.  Por isso, talvez, o bem estar geral que tal massagem provoca.
Há alguns meses passei um tempo morando com minha mãe, que ficou doente. Um dos incômodos causados pela doença foi a friagem nos pés. Para aquecê-los , antes de calçar-lhe as meias de lã,  passei a fazer uma massagem com creme.
Minha mãe sempre foi uma mulher muito reservada em relação aos sentimentos. Ela era daquelas pessoas que nunca tomavam a iniciativa do abraço e, quando se via abraçada, demonstrava um certo incômodo e logo dava um jeito de fugir do laço. Abraço de 30 segundos com ela? Nem pensar.
Foi, portanto, com surpresa (minha e dela) que a ouvi dizer o quanto era gostosa aquela massagem e que nunca lhe haviam feito algo semelhante.
- Como assim? – pensei eu – aos 82 anos nunca tinha tido o prazer de uma massagem nos pés?
Ela gostou tanto, que passou a me pedir todos os dias, mesmo que os pés não estivessem frios.
O interessante é que o prazer foi mútuo.  Fez -me tão bem massageá-la! O prazer daquele toque , que mal nos permitimos por anos. O cuidado, o contato, que ela nunca me confiou.
Aqueles pés sustentaram nossas vidas, minha e dela. E mais! Suportaram o sustento da família, nas caminhadas diárias até o ponto do ônibus para ir ao trabalho e dele para casa, todos os dias, religiosamente, por anos a fio. Pés que a firmaram em pé,  em ônibus lotado, com sacolas nas mãos. Pés sempre elegantemente calçados com sapatos de saltos em uma altura que eu jamais usarei, mas que para ela era natural.
Pés que foram base para ela, como base ela foi pra mim.
Foi pelos pés que nos reencontramos, que redescobrindo nosso contato, nossas carícias perdidas de mãe e filha. Foi pelos pés que ela entregou, finalmente, a responsabilidade de seu cuidado a mim.
No hospital, pouco antes dela parar de respirar, eu olhei seus pés que haviam saído para fora do cobertor. Senti-me culpada porque havia esquecido de lhe cortar as unhas.

Luciane Madrid Cesar
SP 07/12/2019