Estava eu, dia desses, na fila do supermercado, quando uma senhora chegou perto de mim e, olhando nos meus olhos, falou através da máscara: “Ela vai voltar. Você vai?”
Olhei para trás e para os lados para ver se era comigo mesmo. Era. Achei, então, que ela podia ter-se enganado, me confundindo com alguém com quem já estivesse conversando antes - porque a frase que me disse só podia ser a continuação de uma conversa... Enfim, não tive outro jeito senão dizer: “Desculpe não entendi” - ao que ela retrucou: “Você não é minha colega na ginástica? A professora vai voltar às aulas...”
Só então a luz do entendimento passou por mim! Minha dificuldade em reconhecer fisionomias, aliada a máscara que encobria seu rosto não me permitiram identificar, de pronto, a companheira de exercícios. Ela, por sua vez, parece ter continuado, com a fala, algo que havia iniciado em pensamento.
Quantas vezes já fiz isso? Penso coisas e, ao falar, presumo que o interlocutor captou toda a ideia pensada. Às vezes, acho graça da situação e esclareço a conversa. Pior é quando me irrito por não obter compreensão. Isso é muito comum nas relações com familiares e amigos, quando a intimidade torna tudo permitido.
Uma variante desta situação tem a ver com a expressão de nossas vontades. Temos o hábito de achar que todos a nossa volta pensam, agem e gostam das coisas da mesma forma que nós. Então, consideramos dispensável explicar o que, para nós, é totalmente claro. E isso acaba causando muitos desentendimentos. Presumir que a pessoa entendeu o que eu pretendia exprimir com determinada palavra ou gesto é abrir a porta para possíveis mal-entendidos. Pode-se, inclusive, causar problemas dolorosos e de longa duração. Quantas amizades se desfizeram sem que um dos envolvidos nem soubesse o porquê? Anos mais tarde, as coisas se esclarecem, mas o mal já foi feito.
Na posição de receptor da mensagem, às vezes me pego incomodada com a quantidade de explicações que alguém me dá. Olhando por esse ângulo, melhor explicado demais do que entendido de menos.
O óbvio precisa ser dito, se se quer ter certeza de que a mensagem foi compreendida. A clareza na comunicação é, indubitavelmente, nossa melhor ferramenta para a paz no cotidiano.
No futuro, quando a ciência descobrir uma forma de ler pensamentos e pudermos saber, exatamente, o que se passa na cabeça de nossos semelhantes, resolveremos este problema. Mas, com certeza, criaremos alguns outros... Assunto para uma próxima crônica.