Estava eu assistindo a uma conversa com a querida Joice Zentner na Roda de Gaia (@projetovozdalua), quando tive um sobressalto. “A Luta feminista pelo direito ao trabalho é uma luta da mulher branca. A mulher negra sempre trabalhou.” dizia ela. Eu nunca havia pensado nisso. Quantas outras coisas eu não pensei ainda na vida? E não pensei porque não vivi. Nas questões de raça, conheço um pouco a luta das meninas de cabelo crespo, que na minha época tinham que ser “domados” já que bonito mesmo era o bem comportado liso europeu. Mas não havia percebido que o blush e a sombra, que realçavam minha pele desbotada, não produziam o mesmo efeito em peles com alta melanina, até que a indústria de cosméticos identificou aí um gargalo e passou a produzir maquiagem para a pele negra.
Quantas outras coisas me foram ensinadas como verdades absolutas num mundo organizado por indivíduos brancos e masculinos? Essa formação (branca e masculina) serve de parâmetro para todos as pessoas, não importa gênero ou raça. Os que se assemelham a eles acham tudo natural e nem percebem o quanto os diferentes não se encaixam. Até que os diferentes se mostrem e consigam expor suas diferenças.
Um termo que tem sido muito usado nestes tempos de busca por dias melhores é “lugar de fala”. Meu lugar de fala é o de mulher, branca, acima de 50 anos, moradora de interior, pós-graduada etc. - a gente pode ir restringindo o recorte quase ao infinito. Pois bem. É muito mais fácil para mim entender as dores e delícias das mulheres que me são semelhantes. Fazemos parte de um mesmo grupo. Mas se alterarmos alguns dos fatores, como gênero, raça, escolaridade, geografia, classe social, já encontrarei problemas que talvez não enxergue e não entenda, mesmo que eu tenha empatia pela situação. Um exemplo prático: um secretário de saúde que quer ampliar a gratuidade dos exames de mama nos postos municipais. Por empatia, ele entende a importância dessa ação. Mas na hora da compra dos equipamentos de mamografia, provavelmente, esse homem não vai se lembrar de procurar algum produto que aperte menos as mamas na hora do exame. Porque ele nunca sentiu esse incômodo.
Para concluir, quero deixar aqui registrada minha indignação com os percentuais de representantes municipais que elegemos neste domingo. No eleitorado brasileiro, 51% são mulheres e elegemos 11,6% de prefeitas e 13,6% de vereadoras. São negros 56% dos eleitores, mas só 27,3% dos políticos. Na comunidade LGBTqia+ e com os deficientes físicos a discrepância é ainda maior. Essa conta não está batendo. Tivemos avanços importantes, mas ainda falta muito! A gente precisa repensar nossa maneira de votar, a fim de conseguirmos uma representatividade mais eficiente. Temos algum tempo - até as próximas eleições.
Concordo plenamente...
ResponderExcluirConcordo. Há muito que fazer!!
ResponderExcluirMuito bem colocado, concordo!!!
ResponderExcluirSua reflexão é muito pertinente, Luciane!
ResponderExcluirRealmente não paramos para pensar fora da nossa bolha, acabamos nos sentindo acomodados em nossa falsa segurança. A internet tem essa vantagem de nos apresentar realidades diferentes da nossa e isso amplia a nossa visão acerca de assuntos que "fogem" da nossa bolha.
Um abraço!