A língua é viva, já dizia Olavo Bilac e D.
Clotilde, minha saudosa professora da faculdade de Letras. Modifica-se e
movimenta-se no espaço e no tempo. Palavras ora surgem, ora entram em desuso,
pela ação, segundo estudos mais recentes, da estrutura social de seus falantes,
que, por sua vez, também não é estática.
Sororidade é uma dessas palavras novas. O
termo vem do latim “soror” que significa irmã, e surgiu a partir do movimento
feminista para designar o sentimento de união, empatia e solidariedade entre
mulheres e em oposição a rivalidade, estimulada em outros tempos. A teoria de
dividir para subjugar, muito usada nas guerras, era também incutida na educação
das meninas, evitando que se rebelassem. É um conceito novo para muitos de nós,
que crescemos ouvindo o discurso de que mulheres têm que ser rivais,
especialmente quando se trata de atenção masculina ou de padrões de beleza.
Tenho
observado que esta realidade – considerar outra mulher como rival - ainda povoa
grupos de mulheres da minha idade. Comentários sarcásticos e depreciativos são
comuns em alguns ambientes femininos, principalmente sobre aquelas que não
fazem parte do grupo.
Exemplos
baseados em fatos:
1 -
No grupo de ginástica para mulheres maduras(?), na academia, uma das
integrantes não se achava bem entrosada com o resto, talvez por sentir-se diferente,
já que seu corpo estava bem longe dos padrões de peso impostos pela sociedade. Naquele
dia, o professor usou na aula uma música que ela adorava e, sem pensar muito, a
mulher soltou o corpo em alguns passos de dança. O resto do grupo, então, começou
a caçoar a meia voz (algumas, mais maldosas, em voz inteira). Senti-me de volta
ao ginásio, com o “bulling” correndo solto.
2 - Na
mesma academia, mesmo grupo, o amado professor saiu em férias e a substituta, recém-formada,
deu uma primeira aula cheia de insegurança, ocasionada pela pouca experiencia
e, talvez, pela intimidação que aquelas mulheres mais velhas lhe causavam. Mais
uma vez, os comentários depreciativos correram à boca miúda. Voltei novamente
ao passado, desta vez aos meus primeiros dias em sala de aula como professora.
Como eram assustadores todos aqueles olhares, esperando que eu fosse
perfeita...
Não
se trata, aqui, de ter afinidade com todas as mulheres do grupo, mas de manter
o respeito e a empatia. Estender a mão a uma companheira em apuros, ser
compreensiva com as dificuldades alheias, receber com gentileza um novo membro
no grupo, são atitudes que devem ser praticadas com todos os seres. O que a
sororidade nos lembra é que, por termos a afinidade do gênero, fica ainda mais
fácil percebermos as dores umas das outras.
Felizmente,
as novas gerações começam a entender a força dessa cooperação ancestral. Acredito
que nossas netas e bisnetas já usufruirão da ideia de que a sororidade é um
sentimento inerente à energia feminina e a cultivarão com naturalidade.
Olá Luciane,
ResponderExcluirÉ um ótimo assunto para refletir. Realmente, em várias situações e contextos nos deparamos com essa rivalidade feminina, manifestada de diversas formas. E aí começamos a perceber como esse comportamento ainda é estimulado pela mídia, pelos programas de entretenimento, enfim...
A mudança de paradigma depende de cada uma de nós, em ponderar sobre quais aspectos nossos ainda reflete esse tipo de comportamento.
Abraços!