domingo, 28 de julho de 2024

Vó, avó, Vovó


Dia 26 foi o Dia dos Avós! Há avós de todo tipo, permissivos ou mandões, sérios ou brincalhões, dizia um texto compartilhado na internet. E eu me lembrei nos meus.

Enquanto todas as crianças que eu conhecia já haviam perdido pelo menos um dos avós, eu tive a sorte de ter os quatro até meus 14 anos. E, sim, tinha os amorosos e alegres, e os rabugentos e severos. E, para minha cabecinha infantil, eles estavam em pares trocados. De um lado, um avô severo era casado com uma avó boazinha. De outro, a brava era avó, fazendo par com um avô divertido.

Minha avó mais brava, na verdade, não era brava comigo. Sua fama de outros tempos é que assustava: dizem que jogava água nos moleques que pulavam o muro da velha casa onde morava para roubar as mangas do pomar. Era sistemática, é verdade. Não gostava que arrumassem suas coisas e sempre tomava chá com leite numa caneca de ágata, só nela. E não era dada a sorrisos. Só ria muito com as brincadeiras de meu pai. Já a conheci doente e fui sua companheira algumas vezes, quando já não podia ficar sozinha. Era casada com o avô alegre. Poeta, cronista, carnavalesco, tinha sempre uma história interessante para contar. Usava uns óculos que deve ter sido o inspirador da expressão “fundo de garrafa” (daquelas de guaraná, sabe, verde?) Tinha uma careca à la Drummond, que ele cobria com um elegante chapéu estilo 1930.

Do outro lado da família, o avô bravo conversava pouco e, quando falava, tinha uma voz de trovão, grave e rouca, que impunha respeito. Motorista de praça (hoje chamado taxista), entendia de carros e de caminhos como ninguém. Adorava passear com a família nos arredores da cidade ou em cidades próximas. Eu me lembro do seu DKV vermelho alaranjado - ou seria marrom desbotado? - quatro portas, um carro que hoje só existe com colecionadores. Sua esposa, a minha avó, foi a pessoa mais próxima de mim depois de meus pais. Moramos com eles por algum tempo e mesmo quando nos mudamos, eu passava as tardes em sua casa, depois da escola. Sua comida era divina, sua voz muito macia e tinha mãos de fada para desembaraçar meus cabelos cacheados e rebeldes.

As avós de minhas filhas, ambas já viúvas quando elas nasceram, são muito diferentes uma da outra. Enquanto a de lá é a típica avó dona de casa, que faz quitandas e vive com a casa cheia de netos, a de cá trabalhou fora até os 80 anos e tinha pouca afinidade com a cozinha. A boazinha e a brava. Certa vez, ao ver uma das netas elogiar o feijão delicioso da outra avó, minha mãe se sentiu culpada por não ser uma avó que faz comida gostosa para as netas. Eu, então, mostrei-lhe uma foto em que minhas filhas estavam paramentadas com as bijuterias e lenços dela. Elas adoravam pegar a caixa de colares dessa avó para brincar de gente grande. A avó das comidas não usa colares. Minhas filhas tiveram a sorte de ter experiências bastante diversas com as matriarcas.

E eu? Vira e mexe me perguntam se já sou avó. Sim, sua avó por afinidade dos netos do meu ex-marido. Com muito orgulho, os ouço me chamar de vó Lu e sei que, mesmo que não nos vejamos sempre, há muito amor envolvido. Quanto aos biológicos, não cabe a mim decidir. Se vierem, serei feliz, se não vierem, serei feliz igual. 

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