Por algum motivo hoje, enquanto caminhava, comecei a pensar em meus medos. É estranho como a mente vai passeando, aqui e ali na memória, fazendo conexões e, de repente, você se vê pensando em alguma coisa aparentemente “do nada”. O pensamento escolhido, desta vez, foi sobre meus temores vencidos.
É muito bom chegar a esta fase da vida e olhar, com alívio, para tudo o que conseguimos vencer. Dá uma sensação de vitória, massageia a auto estima. O medo nos paralisa e, muitas vezes, interfere decisivamente na realização dos sonhos. Vencê-lo nos torna mais livres. Não que eu acredite que deva vencer todos os medos de minha vida. Alguns não me atrapalham, então deixo eles quietinhos, em algum canto esquecido de minha mente. Pular de paraquedas, por exemplo, é um medo que não faz diferença para mim, já que nunca sonhei em viver essa aventura. Já, conhecer o Brasil em quatro rodas é algo que ainda pretendo fazer...
E por falar em rodas, o maior medo que venci na vida foi o de dirigir. Dos meus 18 aos 35 anos fiz nove provas sem conseguir passar no exame de direção. Quando, finalmente, consegui a CNH, na décima tentativa, nem acreditei! Mantive o carro na garagem, por um ano, para não correr o mínimo risco de perder o documento provisório. A essa altura, tantos anos de tentativas infrutíferas, cheguei a deixar de lado meu sonho de adolescente de pegar estrada, ir de carro para São Paulo e dirigir por lá com a desenvoltura que admirava em minha tia Cláudia (a melhor motorista que já conheci). Dirigir na pequena cidade onde morava já era maravilhoso, pensava. Era o medo me paralisando de novo. Logo percebi e fui à luta. Hoje vou a São Paulo, a Santos, pego a Dutra... desço até a serra de Cunha!
Venci muitos outros medos durante essa jornada. O de cachorro passou totalmente quando adotei meu cãozinho Theo. O de baratas foi controlado quando me tornei mãe e não pude mais me dar ao luxo de deixar de fazer almoço por causa de um inseto no meio da cozinha. O de dormir sozinha em casa melhorou com a maturidade, mas ainda me assola, vez por outra, conforme meu estado de espírito.
Alguns medos são vencidos todas as vezes que aparecem, numa batalha que parece não ter fim (é o caso da barata!). Outros, depois de derrotados, vão embora com o rabo entre as pernas... E há aqueles que se confundem com vergonha ou timidez.
Andar de bicicleta é um exemplo. Houve uma época em que o veículo de duas rodas era meu segundo par de pernas. Já faz muito tempo. Hoje em dia estou ensaiando para voltar a pedalar. Até já comprei uma, novinha, mas a coragem de sair por ai não veio junto na embalagem. Neste caso, não sei dizer se é medo de cair ou se é vergonha de dar vexame. Ou os dois!
Já há algum tempo venci meu medo de ir a eventos sociais sozinha. Talvez, neste caso, seja uma timidez que foi vencida. Ou seria o medo de enfrentar pessoas que não conheço?
Enfim...
Pensar em todas essas vitórias me fez muito bem e é uma reflexão que recomendo! Há ainda muitos medos em mim mas, quanto mais caminho nessa existência, mais compreendo que superá-los é uma questão de tempo. Um passo de cada vez e a gente chega lá.
Observação de última hora: achei que este texto fosse a superação de mais um temor – o de confessar meus medos. Mas logo percebi que não é isso que acontece aqui. Confessei coragens, isso sim.
Quais são os pavores inconfessáveis que ainda vivem dentro de mim? Reflexão para a caminhada de amanhã. Assunto de outra crônica? Talvez no futuro...ou não.