Meus pais tiveram uma vida difícil, com privações financeiras durante a infância e juventude. Aprenderam cedo o valor das pequenas economias. Poupar recursos, reutilizar, transformar... A criatividade estava sempre em alta na hora de guardar o dinheiro suado conquistado com muito trabalho.
Assim, se o papel de presente saía inteiro ao desembrulhar a lembrança de aniversário, por que não guardar com cuidado para o mesmo uso ou para encapar meus cadernos no próximo ano letivo?
A esponja de cozinha, cortada em duas, preservava a mesma eficiência, multiplicada. O saquinho de pão era perfeito na pré-limpeza da louça engordurada, economizando água e sabão, e ainda evitando que a gordura entupisse o ralo da pia.
Nas mãos habilidosas de minha mãe, restos de lã e linha viravam colchas, bolsas, enfeites para blusas. As roupas, muitas vezes ganhas de outros membros da família, eram consertadas sempre que possível e transformadas, conforme necessário. Já tive vestido longo de festa que se transformou em curto para o dia-a-dia e depois virou camisola. Meu pai tinha a regra de tirar uma camisa para doar sempre que ganhava uma nova.
Meu pai... alma criativa, vocação para inventor, criava várias soluções domésticas com reciclagem. Da redinha plástica que envolvia a dúzia de laranjas no supermercado, ele fazia uma bucha para tirar os resíduos de alimentos nas panelas; latas de óleo eram cortadas e transformadas em porta-guardanapos e porta papeis de limpeza – os saquinhos de pão que já mencionei; ripas de madeira, que serviam para enrolar tecidos nas lojas, se transformavam em molduras para os quadros que ele pintava; até as telas de pintura eram, muitas vezes, partes de caixas de frutas ou prateleiras de moveis antigos.
Sacos de lixo? Não! Usávamos folhas de jornal que, colocadas da forma certa, viravam um pacotinho para jogar na lixeira do prédio.
Meus pais não sabiam, mas eram pioneiros na atitude sustentável. Éramos, já naquela época, uma família Lixo Zero.
Nos primórdios da internet, corria um texto divertido que começava assim: “você sabe que é pobre quando: usa copo de requeijão pra beber cerveja, usa garrafa pet para guardar água na geladeira...” e por ai vai, uma lista de atitudes consideradas, na época, depreciativas. Hoje poderíamos criar lista semelhante, com muitos dos itens que constavam nessa outra, mas com o vocativo: “Você sabe que é sustentável e respeita o meio ambiente quando...”
Outros tempos, maior consciência nas ações de consumo e respeito ao planeta. Ações, porém, que não deixam de ajudar a poupar uma boa grana, como me ensinaram meus pais!
Se fizéssemos apenas o mínimo já seria o máximo. Eu faço e felizmente tenho alguns pares na mesma lida. =-0)
ResponderExcluirQue ótimo. Tambem tenho. Isso nos da alguma esperança.
ExcluirCenas da infância que trouxe para a vida. Que importância tudo que vc coloca na crônica.
ResponderExcluirSim. Tudo que vivemos nos torna o que somos. Importante selecionar o que acrescenta e transformar o que nao serve - aprendizados são como os residuos.
ExcluirCrônica sensacional Luciane. Me fez lembrar alguns momentos de minha infância. Nos dias de hoje em que se faz preciso a prática de sustentabilidade para vivermos melhor e salvarmos nosso planeta, seu crônica trouxe algumas importantes dicas.
ResponderExcluirMuito importante não só praticarmos a sustentabilidade, como também ensiná-la e transmití-la às novas gerações para vivermos em um planeta melhor no futuro.
Vdd. Sempre acabamos agindo mais pela necessidade que pela razão
ResponderExcluirSim. E o exemplo é a forma mais eficaz de aprendizado. Sejamos nós o mundo melhor que desejamos!!
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