Ontem eu estava organizando fotos antigas. Não as que estão guardadas num pendrive. Refiro-me às impressas em papel fotográfico, daquelas nos obrigavam a ter muita paciência para esperar a revelação do negativo e só assim ver como ficaram. Lembro-me que quando o filme era de 36 poses, às vezes, demorava muito para terminar. Sim, porque a gente economizava o máximo. Era tão caro todo o processo que só se batia fotos nos momentos mais importantes. E eram umas poucas, com todo o cuidado para que ficassem bem, tanto no enquadramento quanto nos modelos. Ainda assim, muitas vezes, saiam algumas com cabeças cortadas ou, o que é muito pior, poses horrorosas. Quem nunca teve uma foto em que apareceu falando ou fazendo careta? E aquelas de festas, que a gente sai mastigando ou numa posição pra lá de comprometedora? Se a foto fosse nossa, era só rasgar e ficava tudo bem. Mas se o tal retrato fizesse parte do álbum de casamento de sua prima, melhor fingir que não era você!
Com as fotos digitais também pode acontecer tudo isso, mas como hoje se tira muitas e muitas fotos sobre um mesmo tema, é só deletar a imagem problemática e postar as que ficaram bem.
No tempo das fotos em papel, o nosso ideal de vida perfeita vinha das novelas da TV. Descendentes diretas dos contos de fadas, eram nosso parâmetro de felicidade. Ter a roupa da protagonista x, comprar um sofá igual da sala da personagem y, ser bem sucedida como a heroína ou ter todos os nossos desafetos sofrendo as punições impingidas aos vilões, no último capítulo, faziam parte de nossos planos para o futuro.
Hoje, o modelo de mundo perfeito não depende de roteiro. Salta aos olhos e ouvidos nos vídeos do YouTube, nos stories do Instagram. A internet tornou-se um novo teledrama das oito, mas sem hora para acabar. O fotoshop e outros aplicativos simulam uma perfeição que não existe na vida real. Ainda assim, corre-se o risco de que aquela foto que flagrou você com a empada na boca possa estar rodando por aí na rede social de alguém.
Felizmente, o que traz problemas também oferece a solução. A mesma internet tem possibilitado uma mudança de atitude. Muita gente real está postando o seu arroz que queimou, o penteado que não deu certo ou o corpo cheio de dobras e flacidez. É só procurar.
A verdadeira mudança, porém, tem que estar em nós mesmos. Entender que a perfeição é relativa e depende de padrões estipulados que mudam conforme a época e a cultura, é libertador. Se soubéssemos disso anos atrás não teríamos rasgado tantas fotos...
Rir das próprias gafes, aceitar-se como ser único, valorizar as inúmeras perfeições fora dos padrões que todos nós temos, é o caminho para felicidade. Simulacros de precisão estética e funcional estarão sempre ao alcance de nossos olhos. Cabe-nos identificar seu valor tornando-os metas ou descartando-os de pronto.
Eu sou do tipo que não consigo apagar mesmo que a foto não saia perfeita, pois as espontâneas são as que depois de muito tempo, elas são as que nos tirarão muitos sorrisos!
ResponderExcluirQue bom. É exatamente isso!
ExcluirNossa! Como sofri com isso! Rsrs. Hoje não mais. Antes odiava tirar fotos. Hoje? Saia do jeito que sair, nem ligo.
ResponderExcluirÓtimo! Eu particularmente me conformo e sigo em frente, a vida é leve!
ResponderExcluirEu nunca fui muito fotogênico, confesso. Ainda mais antes de fazer minha cirurgia bariátrica em 2016 e por isso não gostava de tirar fotos. Agora até que sou um pouquinho fotogênico e gosto de tirar fotos, principalmente as esportivas e as de churrascos, festas e pessoas que eu gosto e momentos especiais. Por mais que as fotos registrem os momentos, eles (principalmente os bons) tem que ficar registrados para sempre na mente e no coração das pessoas.
ResponderExcluirRealmente hoje é muito mais fácil você tirar dezenas de fotos e escolher aquela(s) em que você se saiu bem para postar. Com as redes sociais hoje (Facebook, Instagram, etc), praticamente tudo se tornou motivo para um status ou para uma postagem.
Vale ressaltar também que nesses ambientes de redes sociais, ficamos muito expostos também. As coisas ruins viralizam com grande frequência e com relação as coisas boas, muitas pessoas demonstram estar felizes com o que aconteceu com a gente, mas não temos a certeza se essa reação é verdadeira.
O Facebook estava para liberar o emoji NÃO CURTIR. Imagina a quantidade de polêmica e "treta" que isso pode acarretar.
Parabéns mais uma vez pelo sensacional texto Luciane!!!
Beijos!!!
Ótimo texto amiga!
ResponderExcluirLu, você resgatou em mim a sensação gostosa que era esperar gastar todos as fotos, e maior ainda ao abrir o envelope com as reveladas e, claro a quantidade de perdidas. Na época não podíamos ter mtas fotos, mas as que temos reveladas, são motivos de mtas risadas. Obrigada por tal resgate. Parabéns ! Amei!
ResponderExcluirVdd, Zezé. Receber a revelação era uma alegria sem igual...
ExcluirPra variar adorei o seu texto Lu. Adorava ir pegar as fotos que tinham sido reveladas.
ResponderExcluirÓtimo texto Lu. Ainda acho que os espontâneos eram os melhores. Parabéns! 👏👏👏👏
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